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3.


no recato do tempo
resvalam as mãos abertas

ao encontro das palavras prenhas
de acordes breves

a pauta rasga-se em ventre
 devassante
 ao enfado





4.


 e de súbito a luz brota desinquieta............... em desespero
 fere até refulgir em sangue............... sitiado
o coração do caçador de gazelas
aquele que voltou a ensopar o coração
 escondendo-se do sol e das tempestades
porque julgara tê-la............... encontrado infinita
 como o amor ilimitado exposto à solidão dos alucinados








.10




3.


a vida jamais se escreveu sozinha
.
.
a deles foi uma viagem ao amor
com ida e volta
sensual
mente
 circunscrita à pele
cerzida por raios de sol





4.


na telúrica destreza dos tendões...............o reflexo
paixão que se completa na morte da brisa acúlea
no interior múltiplo
um deus arrancado ao júbilo de desencanto
hibernação das guelras
atulhadas de flores de espinhos
narrativas de seres sitiados.








.9




3.


 acéfala a minha reminiscência
em desassisado ou anacrónico amor

colhes por troca
 a flor-do-vento.......... o beijo
 subjugado Amante
em tudo.......... nada.......... assumido

o tombo





4.


 e daqui.......... o hostil.......... refúgio de um corpo
o desejo nas bocas brancas.......... um uivo
 cativo na tua mão sem sílaba
e sabei.......... intacta.......... a distância.......... da minha mão explode
lágrimas.......... espigões de mel
a nossa precária perdição
lucidez ou loucura um amor acéfalo









.8




3.


a-fundam.......... con fundem-se.......... fundam
as mãos
arcontes

fá-lo
o desejo
em desassossego
Amante





4.


as mãos incidem na labareda da visagem
ficam infusas de línguas.......... centradas
íntimas de arestas nuas
no deslumbramento dos amieiros
apenas um fio como o bafejo de dois zanis
borboletas exaustas de voo exposto
o temor único nos lábios de sol indivisível









.7




3.


ecstasy
as meninas anorécticas
desnudam-se
com Brighela e Arlequim
mascarados

na
passerelle





4.


a profecia dos pássaros suspensos
dos fluxos e refluxos............... artérias imensamente desnudas
e um útero de criança aceso nas guelras lilases
em geografias cavadas na carne dos rizomas
intrínsecas na periferia do nenúfar das vozes
todas as bocas perceptíveis que têm uma dilatação colateral ao coração
que desperdiça a luz dos círios.









.6




3.


do[l]entes de beijos
esparzidos em a-braços
Hipnos e Thanatos entregam-se
à cálida sensual
idade
do en tarde
'Ser





4.


e depois reerguesse onírico na subtileza do jogo
canto e cratera onde o amor debilmente reverbera
o pássaro fragmentado na superfície afogueada dos céus
difusos movimentos acéfalos procurando o centro
às vezes as palavras afluem e predizem o coração imaterial
tão mágico e violento que as tempestades agonizam
até onde retrocedem as florestas dos olfactos improváveis









.5




3.


subjacente ao traço que dos rostos se descola
emerge a máscara grega
a trama...... o ardil...... a cabala
le grand final
como se as artérias dos corpos
tivessem augurado um dúbio posfácio
.ámen.





4.


ou a melíflua hermenêutica das máscaras desmemoriadas
em arestas frescas todo o tempo numa pausa estupefacta
a morte está aí como uma mortalha ínfima nos rastros
laivos de derrocada que longínqua ternura detinha ainda
na raridade de um sopro próprio que ninguém detém
esta intemporalidade maravilhosa entre caroço e polpa
é um fulgor que se precipita contra as estacas sacrificiais









.4




3.


um ficheiro grávido de memórias ram
um rasto de corpos vestidos de nada
uma poalha de tempo....... um papel alienado
kafka o gato
dissimula em nuas cicatrizes
os beijos ousados
nos ventres abertos em murmúrios de cólera





4.


cada olhar derradeiro é uma cicatriz varada no cio
um deserto irradiando anzóis em seu reflexo
disposto de frente na inquietação alucinada da sede
um desejo como um íman brutal e impuro
a dinâmica subtil do coração nutrido na cânfora
já que as distâncias são como válvulas ateadas de sangue
a exaltação da carne até à fulguração dos sexos








.3




3.


abraçados
no sobressalto núbil do vento
um cravo ao ritmo de uma rosa uma sonata maior
a dança em movimentos cíclicos
acolhe-os
um tudo nada imenso
aberto aos corpos esculpidos no [a]deus amargo





4.


avaliando-se na própria duração do olhar
um caudal sumptuoso de borboletas alucinadas
nos recessos mais expostos do movimento
o amor no instante subtil e extremo das vísceras
mais do que um festim um longo cativeiro
atravessado por uma miragem de tâmaras
a cratera onde nasce outra vez o crime dos corpos









.2





3.

perderam-se nados em total [in]disciplina
no canto que do medo se fez en-canto
mergulharam
espanto e
ao soçobrar um resto
ousaram-se
um golpe de asa............a fera entorpecida





4.


a paixão acúlea alagando a destreza das aves
fundiu-se obscuridade das primeiras noites
mirando de rebordo os olhos da leoa materna
os sentidos rasgando o desejo dos dias
tudo o que antecipou a saliva do osso
como se a fêmea convocasse o predador
sob a ferocidade das falas da primavera.








.1




3.


sentiu um desejo irresistível de Ser
um sorriso do outro
uma gargalhada do outro
um rio de outro
a viver rio
a ser mar
em tempo de a-mar





4.


Houve um regresso pelo flanco das mãos
mas os dedos pesavam com címbalos acesos
no bronze frenético em suas extremidades
a boca resfolegava o mercúrio das chagas
porque o coração incarnava a exiguidade da pele
os animais amam-se noutros lugares ensimesmados
onde a água e o sangue apenas refrescam a pedra



o acasalamento das mãos









exercícios poéticos a quatro mãos iniciados
( mas interrompidos )



entre
João Rasteiro
.4

e
gabriela rocha martins
.3



2008
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